domingo, 1 de agosto de 2010

EMISSÁRIO SUBMARINO EM DEBATE

UMA QUESTÃO IMPORTANTE PARA A COMUNIDADE COLOCA EM CAMPOS OPOSTOS ECOLOGISTAS E A COMPANHIA DE ÁGUAS DO ESTADO. LEIAM SEUS ARGUMENTOS.


Em Santa Catarina, apenas 9,95% da população possui tratamento de esgoto, segundo a Associação de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES). A situação é tão grave que o estado apresenta o segundo pior índice em cobertura de saneamento do país, à frente apenas do Piauí. Em Florianópolis, segundo a Casan, apenas 58% da população recebe atendimento do sistema de coleta e tratamento de esgoto. O restante dos dejetos vai parar nos mananciais e diretamente no mar, sem nenhum tratamento. Para resolver esta situação, a Casan pretende construir dois emissários submarinos, um no norte da Ilha, na praia dos Ingleses, e outro na porção sul, entre as praias do Campeche e da Joaquina. Emissários são sistemas de tubulações construídos para levar até o fundo do mar o esgoto depois de passar por uma estação de tratamento.
A proposta de construção desses sistemas tem causado polêmica entre associações de moradores e ambientalistas. Nesta edição, publicamos uma carta enviada pelo presidente da CASAN, Walmor de Luca, e pelo ecologista Gert Schinke.
Na próxima edição, publicaremos um informe com dados de outros lugares do mundo onde funcionam os emissários como, por exemplo, na Flórida (Estados Unidos). Também entrevistaremos um biogeoquímico marinho para que se manifeste sobre este assunto. O debate está aberto, se você deseja opinar sobre este assunto, pode acessar o site www. lestedailha.blogspot.com e deixe sua mensagem.


UMA PRÁTICA UNIVERSAL por *Walmor Paulo de Luca




Em recente evento esportivo internacional ligado ao surf e que teve uma disputa aqui em Florianópolis, mais precisamente na Praia Mole, uma ONGdenominada Movimento Saneamento Alternativo (Mosal), aproveitando o público que prestigiava as provas, distribuiu panfletos denegrindo a imagem da Casan para o que "eles" consideram um despropósito.
Em que pese o uso indevido do logotipo da Empresa, algo que a nossa Diretoria Jurídica dará o encaminhamento que o caso requer, causou-nos estranheza o desconhecimento dos signatários sobre o funcionamento dos emissários submarinos.
A utilização desse dispositivo remonta aos primórdios do século XX e consiste de uma tubulação com espessura variada empregada para o lançamento de esgotos sanitários no mar, valendo-se da grande capacidade de autodepuração das águas marinhas que promovem a sua diluição, dispersão e o decaimento de cargas poluentes a elas lançadas.
A água salgada e a luz solar atuam sobre o que se chama "pluma de dispersão" porque as bactérias sobrevivem em placas de gordura e morrem em menos de 24 horas.
Hoje, sabe-se que o lançamento de esgotos por emissário submarino, já se constitui num tratamento adequado. Mas no caso do Campeche, em Florianópolis, a Casan ainda vai fazer o tratamento secundário e terciário antes de ser lançado a 3Km de distância e a uma profundidade de 17 metros.
Vale lembrar que a emissão de dejetos líquidos no ambiente foi regulamentada pelo "Protocolo de Annapolis", assim como a emissão de gases, pelo "Protocolo de Quioto".
Em Laguna temos um emissário submarino que funciona há mais de 10 anos e nunca trouxe problemas de balneabilidade para a Praia do Mar Grosso.
No Brasil existem algumas dezenas de emissários submarinos em funcionamento, destacamos o de Ipanema, Barra da Tijuca, Fortaleza, Maceió, Salvador, Vitória e agora Florianópolis que chega finalmente onde o Rio de Janeiro e outras capitais já estão há muito tempo.
* Diretor Presidenteda Casan –
Companhia Catarinense
deÁguaseSaneamento.


São Desnecessários
por *Gert Schinke

No artigo publicado nesta coluna, o Presidente da CASAN, Sr. Walmor de Luca, ressalta um suposto “desconhecimento sobre o funcionamento dos emissários submarinos”. Apressada conclusão. Sofisma 1: afirma ele que constituem um “tratamento adequado”. Os emissários NÃO SÃO equipamentos de tratamento de esgotos, mas emissores de efluentes já tratados, supostamente bem tratados, quesito no qual a companhia que dirige se mostra precária. Sofisma 2: afirma que as águas marítimas têm a “magnífica capacidade de autodepuração ao promoverem a diluição, dispersão e a decantação de cargas poluentes”. Parte ele da premissa, portanto, de que os esgotos não estão devidamente bem tratados ao serem lançados, embora mais adiante afirme que as futuras ETEs do Campeche e de Ingleses darão tratamento secundário e terciário aos mesmos. Infere-se, pois, que serão inertes, não acarretando poluição. Mas, se não causarão poluição, porque lançá-los no mar? Não seria mais lógico dispersar esta água doce tratada nas cabeceiras dos rios próximos as ETEs, realimentando os lençóis freáticos para fechar o ciclo? Assim os emissários seriam dispensados. Brinda-nos com o silogismo: “em Laguna um emissário funciona há mais de 10 anos sem causar quaisquer problemas de balneabilidade”. Logo, em Florianópolis, também não causará problemas. A questão não se resume à balneabilidade, mas sim ao impacto global na orla, afetada em demasia. A premissa induz a crer que o mar ainda suporta impactos, desde que suaves, na contramão do que o mundo apregoa – deixá-lo em paz. O modelo centralizado, proposto pela CASAN, é o fator determinante para a concentração dos efluentes e só interessa às empreiteiras, aos atores políticos envolvidos e às empresas avessas ao monitoramento de seus resultados. Mutatus mutandis, no modelo descentralizado, os efluentes são totalmente absorvidos lá onde a natureza pode realizar esse serviço ambiental. E de graça. Ecologicamente sustentável e valendo-se da complementaridade de sistemas de tratamento, respeita as bacias hidrográficas, é menos energívoro, além de ser, em muitos casos, mais barato. Em paródia, tomara que Florianópolis jamais chegue onde o Rio de Janeiro e outras capitais já estão há muito tempo. Aqui poderíamos fazer melhor.
*ecologista

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